Acordar a meio da noite faz com que pensemos nas merdas que durante o dia não são pensadas. Ou são pensadas, mas não com tanta intensidade nem com o objectivo de chegar a algum lado. A noite passada dei por mim a divagar em mim e naqueles que tenho do meu lado, nos verdadeiros. Naqueles que me fazem percorrer a distância entre Évora e Leiria e vice-versa sempre com a ânsia de os amar tanto quanto sei, quanto posso e quanto eles merecem. Falo principalmente da amizade que, citando o "meu" Esteves Cardoso "em Portugal, leva-se a sério e pratica-se bem" e sublinho! Falo também da minha família que me olha com orgulho e diz que admira os meus 21, mas falo desta vez da amizade.
Ao longo dos anos bati várias vezes com os olhos em "amigos" mais inimigos que os inimigos que nunca tive. Várias vezes, se calhar são demasiados números. Uma ou duas. As suficientes para me fazer ver que a amizade nunca é amizade quando há alguém superior. E a minha mãe sempre me disse que nunca se deve chamar de amigo a gente feia (ambas sabemos a que se referia). Tive a sorte de me enganar as tais várias vezes para saber quem é ou não demasiado feio para mim. Mas também tive a sorte de bater em gente tão bonita que me enaltece saber que as posso amar do fundo do meu coração e ler Miguel Esteves Cardoso n'"Os Meus Problemas" e saber em quem pensar quando ele (me) diz que "Não se pode ter muitos
amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem
apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se
pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da
alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que
se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas.
Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso
saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já
de si pequena (nós) por muitas pessoas.
Os amigos, como acontece
com os amantes, também têm de ser escolhidos. Pode custar-nos não ter
tempo nem vida para se ser amigo de alguém de quem se gosta, mas esse é
um dos custos da amizade. O que é bom sai caro. A tendência automática é
para ter um máximo de amigos ou mesmo ser amigo de toda a gente.
Trata-se de uma espécie de promiscuidade, para não dizer a pior. Não se
pode ser amigo de todas as pessoas de que se gosta. Às vezes, para se
ser amigo de alguém, chega a ser preciso ser-se inimigo de quem se
gosta. (...)
Para se ser um bom amigo,
têm de herdar-se, de coração inteiro, os amigos e os inimigos da outra
pessoa. É fácil estar sempre do lado de quem se julga ter razão. O que
distingue um amigo verdadeiro é ser capaz de estar ao nosso lado quando
nós não temos razão.(...) Os amigos são, por definição, as melhores pessoas do mundo, as
mais interessantes e as mais geniais. Os amigos não podem ser maus. A
lealdade é a qualidade mais importante de uma amizade. E claro que é
difícil ser inteiramente leal, mas tem de se ser.".
Não sei mais o que dizer.
Sei que tenho um abraço cheio de amizade pura e verdadeira. Seja nos velhinhos de Leiria, ou nos novitos de Évora.A vocês o devo tanta amizade.
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