sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

para sonhar é preciso viver

Já fui muito sonhadora. Voava sentada de olhos postos no vazio. Deve ser das únicas características que desconhecem de mim. Agora se me perguntarem, o mais certo é encolher os ombros. À primeira vista parece um acto de indiferença que tanto abomino mas o que tento transmitir é discórdia com o que não me faz agora sonhar. Neste momento é quase impossível planear qualquer manobra que envolva a masturbação mental que é o sonho. E só agora é que entendi o significado de uma conversa que a minha mão teve comigo à uns anos. Na minha cabeça, até à bem pouco tempo, eram impossíveis aquelas palavras. Não existiam pessoas más ao ponto de pensar x e fazer y. O mau carácter era cena de série, a vingança não passava dos filmes e a traição de novelas. Até que me mostram o mundo. O real e nu mundo. Sem sobretudos a tapar as banhas de maldade e cremes a disfarçar crueldade atrás de crueldade. Rugas agora parecem-me mais vincadas e a celulite ganhou uma forma mais horrorosa. Sim, estou a comparar o mundo ao corpo humano. Por fora qualquer roupa mascara imperfeições que lá estão.
Ainda perguntam porque é que guerras existem. Como é que não haveriam de existir se até na adolescência existem traições profundas, vinganças absurdas, falsidade explicita e indiferença ridícula? E sonhar assim, acham que dá? Vai dando, eu tento que dê.
Adoro pensar que vai haver um momento em que toda a gente se dê bem, sem cinismos, sem intrigas mas cheias de paz e harmonia com elas e com que os rodeia. Adoro. Dá-me prazer estar sentada no café com a chávena a arrefecer lutando contra o meu impulso de fumar outro cigarro e atulhada em pensamentos em que no dia seguinte ou até mesmo horas depois me digam que todo o mundo está resolvido. Adoro. E agora que passo mais tempo comigo mesma ainda adoro mais. O que não adoro é dar razão à minha mãe. Mais uma vez os teus conselhos são abre-olhos. O que me vale é que neste último ano tento seguir à risca o que me dizes, não me vá dar mal no futuro.
Hoje é dia de balanço da semana e mais uma vez o mundo fez o seu striptease sem qualquer pudor começando numa ponta e acabando noutra. Nada (e quase ninguém) escapou. A três semana de 2012 o que mais poderia esperar? Este ano até a mim me despiu e agora que penso, sinto-me sem qualquer camisa ou t-shirt capaz de me proteger. Porque o mundo também tem de saber ser misterioso e esconder o que ninguém nunca pode e quer ver e sentir.
Amanhã é dia de esquecimento. Oxalá mais ninguém se dispa porque se não é mais um a juntar ao ex-namorado a passear com a amiga, à linda que me estragou o esquema com o seu olhar de desdém, a quem parecia ser dos meus do outro lado da parada, àqueles que jurava não me magoarem terem chicoteado tudo de mim e aos que são maus carácter sem retorno algum.
Tento viver para sonhar. E mais que sonhar, adoro tentar descobrir o que os outros sonham quando estão na mesma situação... sem rede lá em baixo.

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