domingo, 30 de agosto de 2009

adaptação

Saquei do meu Camel como todas as sextas. Camel? Ainda me perguntava o porquê daquela marca. Penso que foi numa daquelas fugidas a um sotão meio público meio privado que uma delas me disse que Camel activava os sentidos e iluminava o olhar. Acendi o cigarro com um dos isqueiros que teimava em comprar a cada ida aos chineses. Era um com dois ursos mesmo muito mal pintados nas suas privacidades. Questionava-me bastantes vezes sobre o meu estado de espírito quando o comprei. Deve ter sido uma pechincha qualquer porque para mim a repugnância pelas relações sexuais entre animais amorosos é bem evidente.
Ao acendê-lo comecei a pensar de como tenho agido mal para ti, das minhas reacções repentinas e desagradáveis ao teu bem-estar, da minha inveja imperdoável às tuas "amigas", das minhas acusações sem sentido fazendo-te sentir sempre culpado e notoriamente triste. Peguei no telemóvel para te ligar e pedir mil desculpas pelos meus actos mas não tinha saldo. Seria um sinal? Comecei a chorar por estar a sofrer e tu ainda mais. Lembrei-me do que a minha mãe diz desde que nos conhecemos "ainda te vais casar com o pobre rapaz", a minha resposta era sempre a mesma "nunca me casarei com uma pessoa que considero irmão", ela ria-se.
Era insuportável a dor que me consumia. Como é que era possível fazer com que alguém sofresse daquela forma? Não era só eu que sofria, mas tu também.
Sem dar conta já ia no terceiro cigarro e como ela dissera há uns tempos os meus sentidos estavam mais que activos. Conseguia ouvir o bater insurdecedor do meu coração, cheirar o refugado que a minha vizinha da casa mais a baixo estava a preparar delicadamente na sua cozinha, ver os pinheiros lá do fundo balançarem-se ao sabor do pouco vento que se fazia sentir naquela tarde, sentir perfeitamente a camada rugosa que revestia o tapete castanho da rua e saborear intensamente aquele cigarro que me iluminava o olhar.
Institivamente peguei novamente no telemóvel para te ligar. Desta vez não tinha bateria. Seria outro sinal? Comecei a chorar novamente. Eram sinais a mais, era dor a mais, era esperança a menos.
Perdi a coragem que me restava e a dor que me assolava. Simplesmente esqueci o que fiz, o que fizeste e saí daquele terraço a rir com as parvoíces da minha prima que ouvia lá de dentro.
Tu não foste esquecido, só preciso de tempo para me adaptar que apesar de tudo ainda és o meu melhor amigo.

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